Em regra, a depreciação é calculada a partir do valor de um bem em estado de novo, sobre o qual se aplica o fator de desvalorização; todavia, essa regra não é absoluta. É possível comparar duas máquinas ou equipamentos usados com a finalidade de calcular a depreciação relativa entre esses dois bens. Desse modo, conhecendo-se o valor conhecido, aqui denominado de valor referência, é possível estimar o valor do bem avaliando.

Caso os dois bens possuam atributos idênticos, mas que tenham sido submetidos a regime de trabalho diverso, é possível calcular a depreciação de um em relação ao outro. 

Portanto, se conhecermos o valor de um bem no mercado que tenha sido submetido a um regime de trabalho normal, é possível estimar o valor de outro bem que tenha sido submetido a um regime de trabalho pesado.

Os fatores de depreciação variáveis em função do regime de trabalho (ou de práticas de manutenção) são calculados com o auxílio do método Caires. As planilhas desse método estão disponíveis nesta página.

Consideremos dois bens com os seguintes atributos (idade, vida útil, regime de trabalho e manutenção):

 

  \begin{tabular}{W{l}{4cm}W{l}{2cm}W{l}{2cm}W{l}{2cm}W{l}{4cm}W{l}{2cm}W{l}{2cm}} \\  \textcolor{blue}{\textbf{Bem de referência}} & & & & \textcolor{red}{Bem avaliando}} & \\  ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ \\ \multicolumn{2}{l}{\textbf{Coeficientes atribuídos ao bem de referência}} ~ & ~ & ~ & \multicolumn{2}{l}{\textbf{Coeficientes atribuídos ao bem avaliando}} ~ & ~ \\ ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ \\ Trabalho & 10 & Normal & ~ & Trabalho & 15 & Pesado \\ ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ \\ Práticas de manutenção & 10 & Normal & ~ & Práticas de manutenção & 10 & Normal \\ ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ \\ ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ \\ \multicolumn{2}{l}{\textbf{Fator de desgaste do bem de referência}} ~ & ~ & ~ & \multicolumn{2}{l}{\textbf{Fator de desgaste do bem avaliando}} ~ & ~ \\ ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ \\ \phi ( \mu , \tau ) & 0,9955 & ~ & ~ & \phi ( \mu , \tau ) & 1,3246 & \\ ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ \\ ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ \\ \multicolumn{2}{l}{\textbf{Fator de depreciação do bem de referência}} ~ & ~ & ~ & \multicolumn{2}{l}{\textbf{Fator de depreciação do bem avaliando}} ~ & ~ \\ ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ \\ Idade (t) & 8 & ~ & ~ & Idade (t) & 8 & \\ Vida útil (T) & 10 & ~ & ~ & Vida útil (T) & 10 & \\ ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ \\ Fator de depreciação: & 0,1920 & ~ & ~ & Fator de depreciação: & 0,0819 & \\ ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ \\ ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ \\ \multicolumn{2}{l}{\textbf{Fator ajustado ao resíduo (bem de referência)}}  &  ~ & ~ & \multicolumn{2}{l}{\textbf{Fator ajustado ao resíduo (bem avaliando)}} ~ & ~ \\ ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ \\ resíduo ( r ) & 10\% & ~ & ~ & resíduo ( r ) & 10\% & \\ ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ & ~ \\ Fator ajustado ao resíduo & 0,2728 & ~ & ~ & Fator ajustado ao resíduo & 0,1737 & \\  & & & & & \\ \hline \end{tabular}

 

Portanto, o fator de depreciação relativo entre esses dois bens é:

  \begin{tabular}{W{l}{9cm}W{r}{2cm}}  ~ & ~ \\ Fator de depreciação do bem de referência & 0,2728 \\ \hline Fator de depreciação do bem avaliando & 0,1737 \\ \hline ~ & ~ \\ Fator relativo a ser aplicado sobre o valor de referência & \textbf{0,6369} \\ \hline Variação de valor (percentual) em relação ao referencial & -36,31\% \\ \hline \end{tabular}

 

 

No presente exemplo, se o bem de referência tem um valor de mercado igual a R$45.000,00 (quarenta e cinco mil reais), o valor do bem avaliando é R$45.000,00 * 0,6369, ou seja, R$28.660,50.

Como se vê, a mudança do regime de trabalho normal para o regime de trabalho pesado causa uma desvalorização mais acentuada no bem avaliando.

Esse método de cálculo pode ser utilizado para se fazer uma estimativa de valor de forma objetiva, partindo-se dos valores que são apresentados na tabela FIPE. Caso o avaliador entenda que o bem avaliando não foi submetido a condições normais de regime de trabalho e/ou práticas de manutenção, é possível fazer o ajuste entre os dois bens (o de referência e o avaliando). Um exemplo prático é avaliação de um veículo com alta quilometragem (táxis; veículos de aplicativo; veículos de aluguel; automóveis, ônibus e caminhões de frota; embarcações; aeronaves; instalações).

Os cálculos acima admitem, ainda, que seja inserido na equação o ajuste de depreciação inicial.

O gráfico que demonstra visualmente o raciocínio acima é o seguinte:

 

 

 

 

Na página do GeoGebra foi disponibilizado um gráfico que demonstra a dinâmica dos cálculos e a variação dos fatores de depreciação. 

 

 

O endereço da página no GeoGebra é https://www.geogebra.org/u/sjoliveiraojaf

Conforme se constata acima, a depreciação relativa pode ser interpretada como sendo uma homogeneização entre o item da amostra e o bem avaliando a partir do fator de depreciação.

A planilha construída para os cálculos está disponível nesta seção.

Auto de penhora e avaliação com depreciação relativa calculada com a aplicação do método Caires.

 

 

 

 

 

Fontes:
CAIRES, Hélio Roberto Ribeiro. Novos tratamentos matemáticos em temas de engenharia de avaliações. São Paulo: Pini, 1977.
GATTO, Osório Accioly. Avaliação de máquinas e equipamentos. In: Engenharia de avaliações v. 2. 2. ed. São Paulo: Pini, 2014.